quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Como um camelo

Dizer-se que ele bebia como um camelo era um abuso. Ele bebia realmente muito, mas todos os dias.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Marqueses de sades

Dizem-me que as claques têm um lado bom. Eu nunca o vi.
Dizem-me que as claques fazem falta ao futebol. Que tolos! O futebol é que faz falta às claques, mas não por causa do futebol. São outros negócios...
Dizem-me que as sades têm um lado bom. Eu nunca o vi.
Dizem-me que as sades fazem falta, são essenciais ao futebol. Que tolos! O futebol é que é essencial às sades, aos senhores das sades, mas não por causa do futebol. São outros negócios...
Lembro-me. Ia-se à bola. O futebol era onze contra onze e uma bola que é redonda, luta brava, em campo. Os clubes de futebol eram clubes de futebol, associações, colectividades, agremiações. Os presidentes e os directores dos clubes de futebol punham dinheiro do próprio bolso e, como o Fernando da Sede ou o Chester, no meu Fafe, alombavam com botijas de gás até aos balneários para que nada faltasse aos seus "meninos". Dirigentes pagavam bifes a jogadores à rasca da vida. Havia espectadores, massa associativa, adeptos, apaniguados, grupos excursionistas, comissões de auxílio, grupos de apoio espontâneos, bombos e até gigantones e cabeçudos, que não eram poucos. Agora. O futebol é um negócio, dizem-me. Indústria. De moagem e charcutaria. Sades e claques, organizações amiúde criminosas, são farinha do mesmo saco, chafurdam no mesmo charco, cagam na mesma latrina, comem da mesma gamela. Andam ao mesmo. Os marqueses das sades e os cabecilhas das claques, altamente profissionalizados, não sobrevivem uns sem os outros, entredependem-se, entrecobrem-se, entredefendem-se, entrepenetram-se até aos mais respectivos e obscuros entrefolhos. São indivíduos de pouco respeito e vastos recursos, frequentadores habituais e diletantes de esquadras, tribunais e cadeias. Mestres do crime e aprendizes de feiticeiro, vigaristas encartados e trafulhas simpatizantes, vidas de nababos com atestado de pobreza passado pela junta de freguesia, matadores e enterradores do futebol. Castigadores e gozadores de quem gosta. É este o negócio. A indústria.

Dizem-me que não é geral. Que nem todos são assim. Que no futebol há gente série e honrada, à moda antiga.
Pedi ao Diógenes que fosse à procura. Um Diógenes dos tempos modernos, com fato Hugo Boss e um projector LED de longo alcance com quase mil watts de potência e gerador autónomo a gasóleo. Foi há mais de dez anos. Ainda não voltou...

P.S. - O regime jurídico das sociedades desportivas foi estabelecido no dia 2 de Janeiro de 1997.

domingo, 1 de janeiro de 2023

E eu estava lá...

Foto Tarrenego!
É o que dá mexer em papéis velhos, nas tradicionais limpezas de mudança de ano. Um talvez desinteressante jogo de hóquei em patins entre FC Porto e Alenquer, suponho que lá pela primeira metade da década de 1980, nas Antas, Pavilhão Américo de Sá de tantas e indesmentíveis alegrias. O jogador portista que desliza para o golo é, se não me engano, o grande Cristiano Pereira, estrela maior de uma constelação onde brilhavam também, entre outros, Vítor Hugo, Vítor Bruno, Alves ou Domingos Guimarães - isto é, uma superequipa, multicampeões e artistas de circo que dava gosto, a base da selecção nacional.
E eu estava lá, como de costume. Estávamos lá, na bancada vazia tirante nós: eu, o Miguel pequeno e o Miguel grande. Os papéis velhos devem ser remexidos amiúde, mas com cuidado por causa do pó - estou aqui com os olhos um bocadinho irritados, e quem me veja assim ainda vai dizer que eu estou a chorar...

Tenho pressa, vou de barco 10

Foto Hernâni Von Doellinger

Bruxedos e outros medos

Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao por...