O ministro dos Negócios Estrangeiros é, por antonomásia e dever de ofício, o chefe da diplomacia. E o diplomata é, por definição, um homem reservado e de fino trato, um indivíduo circunspecto, grave, cortês, cauteloso, prudente, ponderado, sensato, distinto, elegante, delicado, conciliador. "Ser diplomata é discordar sem ser discordante", sentenciou um dia Millôr Fernandes.
Posto isto, tenho de partilhar o seguinte, em defesa do ministro dos Negócios Estrangeiros: eu creio que Paulo Rangel não é descompostor por opção, malícia ou ódio, sequer por delírio de poder, agora que está no Governo. É-o por feitio, está-lhe no sangue. Em boa verdade, Rangel é um descompostor que vem de longe.
Algures pelos primeiros anos deste século, outro Paulo, Paulo Portas, veio ao Salão Árabe da Bolsa do Porto, convidado para fazer uma importante conferência sobre não sei quê. E fez. Uma conferência que objectivamente não ficou para a História, uma vez que, tirante a minha memória, não encontro na internet (desculpai-me o antiguismo) um único registo a esse respeito. Mas a coisa aconteceu, porque eu estive lá. Foi à noite. E Paulo Rangel marcou presença.
Portas foi apresentado, lá disse o que achou que tinha a dizer, terminou, ouviram-se os aplausos da ordem, educados e bem medidos, não fosse haver malévolas interpretações, e Rangel, agasalhado entre os jornalistas, sentenciou, sem que alguém lhe tivesse perguntado: - Que fraquinho! Se fosse meu aluno, dava-lhe negativa, reprovava...
Se ficou por aí? Não! Paulo Rangel, levantou-se, pegou na imprensa e foi ter com o conferencista, dando-lhe conta do seu desconsolo e das suas mais veementes discordâncias, derivado ao que acabara de sair daquele púlpito. Paulo Portas ouviu-o distraidamente e respondeu-lhe "já estou atrasado", como quem ouve e responde a um molho de palha de aço, virou costas e foi-se embora. E é assim que eu me lembro.
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Tarrenego!
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