sexta-feira, 4 de julho de 2025
Senhora de Antime, já a partir de amanhã
Festas de Fafe, em honra de Nossa Senhora de Antime, de 5 a 13 de Julho. O programa religioso pode ser consultado aqui.
quinta-feira, 3 de julho de 2025
Os dias da Senhora de Antime
Anjinhos, não!
Deveria querer dizer alguma coisa a nosso respeito, agora que penso nisso, mas não sei se diz. Já reparastes, certamente. Não há procissão no mundo que leve e chame tanto povo como a procissão da Senhora de Antime, em Fafe. Um mar de gente, povo atafulhado, a rebentar pelas costuras, sem espaço sequer para descruzar os braços e coçar repentinas aflições. Isso, povo em barda e de todos os feitios. Nós. O povo da terra, inteiro e simples, ali na procissão como na vida. Povo, povo, povo. Mas anjinhos, não...
Mete-se o mês de Julho, chega o calor, e Fafe vive os seus dias mais extraordinários. É tempo de Senhora de Antime. São as Festas de Fafe, que já foram da Vila, do Concelho e da Cidade. Os senhores da Câmara podem chamar-lhe o que quiserem, e até já lhe chamaram "certame", santa ignorância, mas toda a gente sabe que é a Senhora de Antime e o resto é conversa. Toda a gente, quero eu dizer, os fafenses do rés-do-chão, o povo, que é quem realmente sabe das coisas. Lá em cima, há evidentemente uma "organização", que antigamente era comissão de festas, e a "organização" apresenta um programa com muitos bombos, cabeçudos e gigantones, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, fado de Coimbra, nunca percebi porquê, e um considerável naipe de artistas mais ou menos musicais, à dúzia, de dentro e de fora, do TikTok e da televisão, famosos regra geral, excelentes às vezes, para quase todos os gostos. Três ou quatro desses artistas, a "organização" é que escolhe quais, são anunciados como "cabeças de cartaz".
A Senhora de Antime, no entanto, é a procissão. E isto é tão básico, valha-me Deus! Há séculos que o digo, mas afinal não adianta: a procissão é que é cabeça de cartaz das nossas festas. Domingo, o segundo domingo de Julho é a Senhora de Antime, a Senhora de Antime é esse domingo exacto, o nosso domingo mais fafense, o domingo mais esperado do ano. O dia único de ir "ver a Senhora", que coisa tão linda de dizer! O domingo da procissão que me leva às lágrimas, que quase me sufoca num soluço sacrista, palerma, aperto a mão da Mi, que já sabe do que a casa gasta, despejo a água dos óculos, de sol, para a próxima trago óculos de mergulho, rio-me desajeitadamente para o Kiko, com legendas de cinema mudo, não ligues, filho, é a velhice, não vem mais vinho para esta mesa. O Kiko sorri, faz sinal que percebe, que me compreende, parece que me promete um abraço para melhor altura. Tem razão. A Senhora está mesmo à nossa frente. Foi ao cabeleireiro, penso todos os anos, e aproveito para recompor-me. Não tem nada a ver com fé, religião ou família, é sentimento, fafismo tão-somente, fafismo puro e duro, e fafismo não se explica, vive-se, e nem é preciso ter nascido em Fafe para sentir fafismo, também dou isso de barato.
A procissão é que é. A procissão e a explosão do encontro das duas senhoras, das Dores e da Misericórdia, no Lombo ou na Ponte de São José. A sirene que toca à tradicional paragem dos dois andores no cruzamento do Santo Velho, junto ao Palacete, o nosso sítio combinado, como se os Bombeiros antigos ainda ali estivessem ao pé. E a sirene não toca, é um pranto. As pombas largadas e atordoadas e os salamaleques e foguetes excessivos e emproados à porta dos Paços do Concelho.
A procissão da Senhora de Antime, costumo ensinar a quem não sabe, é provavelmente a melhor procissão do mundo e certamente uma das maiores do mundo. Alguns palavrosos chamam-lhe até "Majestosa Procissão", mas ela é tudo menos majestosa. É popular, é simples, espontânea e incomensurável - a olhos de fora, impreparados, poderá até parecer desorganizada, mas não. É o povo que desce inteiro com as duas senhoras até à vila a que agora chamam cidade, não vejo com que vantagem. O povo de pé-descalço e bico calado, respeitoso, talvez com um flor nos lábios fechados para garantir fidelidade ao silêncio juramentado. Milhares de pagadores de promessas furando em marcha lenta pelo meio de milhares e milhares de devotos de bancada, apreciadores, preguiçosos, retardatários, ressacados, curiosos ou simples mirones, famílias inteiras, reunidas, carteiristas, apalpadores e empernadores que se atravancam nas beiras da estrada e nos passeios das ruas. É uma procissão tremenda e comovente, multitudinária e única, uma procissão a sério - A Procissão -, como tenho a mania de explicar aqui aos meus vizinhos que ficam banzados com a meia dúzia de almas penadas e a dúzia e meia de figurões autárquicos e outras autoridades civis, militares e religiosas, assim catalogadas, que todos os anos acompanham a imagem do Senhor de Matosinhos pelas ruas desta cidade que me acolhe, num deserto que só visto.
A procissão da Senhora de Antime é que é. Por mais dias que metam nas festas, por mais estrelas que chamem ao palco, a procissão será sempre cabeça de cartaz. Em Fafe, ano após ano, a Senhora é que arrasta multidões.
(Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. As Festas de Fafe arrancam já depois de amanhã, sábado, dia 5, e vão até dia 13, domingo da próxima semana, o tal.)
terça-feira, 1 de julho de 2025
Os livros estavam em boas mãos
E apeteceu-me dar-lhe um abraço
O homem caminhava vagarosamente ao lado da mulher. Curvado pelo peso de, fiz as contas, setenta e tantos anos, caminhava ainda assim com uma dignidade evidente. O homem velho, de casaco antigo, asseado, pé ante pé até ao café de praia e ao milagre do sol-pôr, levava as mãos atrás das costas. E nas mãos, reparei, um livrinho da Colecção Vampiro, a antiga: "O Imenso Adeus", de Raymond Chandler. Caramba!, és cá dos meus - pensei. E apeteceu-me dar-lhe um abraço.
A mania dos livros apanhei-a em Fafe, mal aprendi a somar letras, na biblioteca que na altura se chamava da Gulbenkian. Lembro-me muito bem da carrinha Citroën cinzenta em chapa canelada, a biblioteca itinerante, que frequentei uma ou duas vezes, estacionada à beira do Manel do Campo, mas o meu sítio já era edifício, do outro lado do Largo, em frente, creio que um primeiro-andar entre a loja do Damião Monteiro e a sapataria da esquina que dava para o beco da Polícia e em cima ou por baixo da Legião Portuguesa, o que certamente justificaria que fosse ali mesmo a meta de partida e de chegada da corrida de jericos dos 16 de Maio. Comecei pelas figuras, evidentemente. Depois procurei-me nos livros. E ia lá quase todos os dias. Em miúdo, ainda em tempo de escola primária, parece-me que sob a orientação rigorosa mas gentil do Senhor Alves, pai, espero não estar a dizer uma asneira muito grande, e depois já em moço, no meu regresso a casa pós-25 de Abril e pós-seminário, beneficiando da cumplicidade generosa e vanguardista do Professor Alberto Alves, que me abriu os olhos para um mundo inteiro que eu não sabia. Foi a minha sorte. Os livros são armas poderosas. E, em Fafe, estavam em boas mãos.
P.S. - Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia Mundial das Bibliotecas.
Há ir e voltar, porra!
Foto Hernâni Von Doellinger |
Hoje é Dia Mundial do Salvamento. Portugal continental registou 49 mortes por afogamento até ao final do mês de Maio. É o terceiro valor mais alto desde 2017, segundo dados oficiais. A maioria dos afogamentos ocorreu em locais não vigiados e não presenciados e em rios.
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Salvamento.
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