Quando o técnico se preparava para guardar o meu telefone "antigo", perguntei-lhe, num misto de bons modos com queres-tu-ver-que-já-me-estão-a-foder:
- O senhor vai levar o telefone? Assim? Com os meus contactos? Não lhe passa pela cabeça que pode estar a violar a lei de protecção de dados?...
O homem corou. Parou, atarantado. Pensou e disse:
- Olhe que nunca ninguém me pôs esse problema. Mas, agora que penso nisso, o senhor tem toda a razão. Deixe ver... Posso é fazer-lhe reset no aparelho antes de o levar, quer?
Eu quis. E ele fez.
É assim que as coisas são. E parece que ninguém quer saber.
No dia seguinte, talvez alguém se lembre, o País acordou alvoroçado com o escândalo da "alegada" espionagem das secretas a um jornalista do Público denunciada pelo Expresso. Chamadas aos microfones, as costumeiras virgindades rasgaram as vestes de indignação, clamaram aos céus contra a gravidade da violação da lei, pediram inquéritos. Isso: seguindo a habitual cábula, sobretudo pediram inquéritos. Passos Coelho, que era então primeiro-ministro, também pediu. E a Procuradoria-Geral da República prometeu logo investigar o caso...
Palavra de honra, não percebi as razões de semelhante escarcéu. Mas quê, esta gente toda acha mesmo que os serviços secretos fazem o seu trabalho dentro da lei e que só desta vez é que mijaram fora do penico? Então não faz parte dos serviços secretos andarem por dentro dos nossos telefones e computadores em geral? Mas para que é que servem os serviços de espionagem? Não é para espiar? Estavam à espera de quê? E os jornalistas não podem ser espiados? Só podem espiar? Afinal o que é que tanto incomoda estes indignados cavalheiros: o acto de espionagem em si ou o facto de se saber dele?
São ingénuos? Não. São hipócritas.
- O senhor vai levar o telefone? Assim? Com os meus contactos? Não lhe passa pela cabeça que pode estar a violar a lei de protecção de dados?...
O homem corou. Parou, atarantado. Pensou e disse:
- Olhe que nunca ninguém me pôs esse problema. Mas, agora que penso nisso, o senhor tem toda a razão. Deixe ver... Posso é fazer-lhe reset no aparelho antes de o levar, quer?
Eu quis. E ele fez.
É assim que as coisas são. E parece que ninguém quer saber.
No dia seguinte, talvez alguém se lembre, o País acordou alvoroçado com o escândalo da "alegada" espionagem das secretas a um jornalista do Público denunciada pelo Expresso. Chamadas aos microfones, as costumeiras virgindades rasgaram as vestes de indignação, clamaram aos céus contra a gravidade da violação da lei, pediram inquéritos. Isso: seguindo a habitual cábula, sobretudo pediram inquéritos. Passos Coelho, que era então primeiro-ministro, também pediu. E a Procuradoria-Geral da República prometeu logo investigar o caso...
Palavra de honra, não percebi as razões de semelhante escarcéu. Mas quê, esta gente toda acha mesmo que os serviços secretos fazem o seu trabalho dentro da lei e que só desta vez é que mijaram fora do penico? Então não faz parte dos serviços secretos andarem por dentro dos nossos telefones e computadores em geral? Mas para que é que servem os serviços de espionagem? Não é para espiar? Estavam à espera de quê? E os jornalistas não podem ser espiados? Só podem espiar? Afinal o que é que tanto incomoda estes indignados cavalheiros: o acto de espionagem em si ou o facto de se saber dele?
São ingénuos? Não. São hipócritas.
P.S. - Hoje é Dia Europeu da Protecção de Dados e Dia Internacional da Privacidade de Dados. Quer-se dizer, é só rir, é só rir...
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